segunda-feira, 14 de março de 2005

Éramos dois a rodar I

Em uma daquelas noites gélidas de inverno no sul de minas, ela, sentada à beira de uma sargeta, cercada de amigos e duas garrafas de vinho, pensava longe...longe, muito longe.

Há anos era a mesma coisa no inverno.Sentar-se na sarjeta e afundar os olhos no antigo paralelepído do chão. Quantas vezes naquela serjeta chorava de saudade, ria de emoção, maquia-va ás vésperas da festas.. e ao invés de voltar para casa,voltava para aquela sarjeta para continuar a festa ou a melancolia enorme que era sua hospedeira no inverno.

Sempre havia alguém a espera dela. Eles não sabiam o quanto isso a confortava, mas sempre havia algum braço, abraço pra correr e derramar a melancolia. Mas naquela noite de inverno, bem quente de vinho e amigos ao redor da fogueira, algo diferente acontecia. Ele não esperava por ela. Ele tinha outras coisas a fazer e toda a emoção que ela sentia em estar com ele tinha acabado. Era uma nova era, o começo de novos invernos, diferentes... por que sentir tanta saudade de alguém que não te quer? Ela não pensava em nada. bebia vinho.

A festa se transferiu para outra casa, não mais uma sarjeta. Seus olhos rodavam, tudo rodava e cheirava vinho. Ao seu lado, um amigo de longa data. Um doce de amigo...um doce. Ele tinha todas as garotas da festa ao seu redor, ele era lindo, charmoso, tocava na banda mais famosa da cidade.

Ela não pensou em nada. Era ele a nova era, ele era o começo de invernos quentes, regados a vinho, regados a festas e muito violão para tocar e cantar.

- Vontade de beijar você.

Ele não respondeu.
Tudo continuou a rodar e a festa se acabou e ele se foi no carro de uma delas. Sabe lá pra onde. E pra ela, a sarjeta.

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