quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Dias de perder, dias de ganhar

Já há algum tempo percebo que na vida existem ciclos nos quais temos que manejar situações de diversos graus de dificuldade, que nos fazem ficar cansados, mas ao mesmo tempo, realizados. Quando a vida oferece o marasmo, é quando paramos para pensar "que droga, nada acontece. Preciso viajar, casar, comprar uma bicicleta, ficar entendiado e mudar de emprego, gastar a maior grana, me jogar numa paixão alucinante, me estropiar numa batida de carro, entrar numa pós, emagrecer ou engordar horrores" enfim, todas essas coisas que marcam o começo ou o fim de um ciclo. Isso significa que o ser humano não é capaz de se manter estático diante do mundo, sem que lhe ocorra algum desafio que o faça se mexer em alguma direção.
Acontece que essas coisas podem acontecer a cada hora, ou a cada semana, ou cada ano... projetos vão e vem com a velocidade X capaz de nos fazer pensar "nossa, o ano passou muito depressa", e para mim é aí que está o grande ponto de tudo. Com que velocidade seus projetos começam e terminam? Eles de fato começam? Eles de fato terminam?
Quando estamos envolvidos em algo que nos excita não percebemos, e não queremos, saber do resto. O tempo passa e não terminamos aquele livro, não começamos a dieta, não casamos, não entramos na pós. Ficamos dedicados aos projetos.
Tem momentos que eu penso "mas que grande palhaçada" (com todo respeito à profissão) "isso não vai parar?", e depois eu entendo que não vai parar, que a grande palhaçada sou eu mesma! Eu que não me acostumo que tem dia de picadeiro e dia de manutenção. Dia de se pintar, dia de cara limpa. Dia de risada, dia de histeria. Projeto que vai, projeto que vem. Ciclo que começa, ciclo que se estende, ciclo que termina...girando, girando, girando.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Bizarrices

De manhã é o horário em que vejo mais bizarrices. Aliás quase tudo que eu vejo me parece estranho, principalmente as pessoas.
Hoje tomei um caminho diferente para o trabalho, e foi muito bom. Saí do fluxo business metrô Sé / Paraíso e fui pelo Vila Madalena. Mas foi tão agradável, tão agradável! As pessoas não tem cara de papel amassado, o ar não é pesado como se o ceu fosse cair na nossa cabeça e não tem bolsas cutucando a sua bunda te forçando a entrar no metrô, ou coisa pior. O mais agradável é que está mais vazio, e portanto, todos ficam mais relaxados. Tem mais verde, tem a estação Sumaré, tem pessoas com roupas coloridas e diferentes, tem crianças....é demais!
Isso me faz pensar longamente sobre a real necessidade de cumprir horário das 9 às 18h, e mais ainda, a real necessidade de se ir até o escritório. Até quando a gente vai gastar dinheiro sem necessidade?
Fico pensando na vida na metrópole, nas coisas, no mundo. Penso tanto que nem vejo que estou pisando no pé da pessoa do meu lado. O que ocorre é esvaizamento total dos sentidos... Será?

Socorro, não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar, nem pra rir
Socorro, alguma alma, mesmo que penada
Me entregue suas penas
Já não sinto amor, nem dor, já não sinto nada
Socorro, alguém me dê um coração
Que esse já não bate, nem apanha
Por favor, uma emoção pequena
Qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta
Em tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
Socorro, alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento, acostamento, encruzilhada
Socorro, eu já não sinto nada, nada

Composição: Arnaldo Antunes/Alice Ruiz

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Diamante de Sangue


Edward Zwick acerta a medida do gosto pós-moderno mais uma vez com Diamante de Sangue. Desde Shakespeare Apaixonado, o romance açucarado que atendeu e muito a demanda da época, o diretor aprimorou sua técnica, trazendo em 2003 o aclamado longa O Último Samurai, que foi um sucesso de bilheteria. Zwick trouxe às telonas uma fórmula repetida e incrementada, e repaginando um clássico da cultura japonesa - agradou em grande estilo. O Último Samurai apela para os valores mais clássicos e arraigados na sociedade (por isso a figura emblemática do samurai). São valores tão primitivos e inerentes aos homens que em muitas sociedades já estão até esquecidos. Grande pedida para a sociedade pós-moderna que gosta e cultiva o retorno ao passado, talvez como uma maneira de encontrar sua identidade.

Diamante de Sangue também segue essa receita, porém trabalha a pseudo-denúncia, que tem sido muito bem aceita já há alguns anos no Brasil; desde os idos de Cidade de Deus. Nada de novo, mas aos olhos da classe média, tudo muito devastador. Não que a denúncia não vale a pena, mas a forma talvez já não seja o meio mais apropriado para atingir seus objetivos.
O filme conta a história e a luta dos povos africanos frente a busca por poder e a exploração desmedida do diamante como moeda de riqueza. Diante dessa tragédia rola um romance pastel que não se concretiza, entre Di Caprio e Connelly (Água Negra). Enquanto isso, o pescador Solomon Vandy vivido por Djimon Hounsou tenta salvar a si e à sua família da separação e da morte.
Tudo estaria bem, não fosse a tentativa descarada de pintar a tela de cor de rosa com paisagens exuberantes e com a dourada pílula do mito do bom selvagem ou o mito do perdão divino. Lá pelas tantas a mensagem que até então habitava a tênue e necessária entrelinha do discurso invade a cena e se transforma no discurso principal, causando no espectador aquela sensação de estar sendo levado no bico. A redenção do personagem principal aos valores humanos pré-capitalistas já era esperada e seria ótimo se não fosse uma reprodução tão mal feita de Conrad em O Coração das Trevas ou se preferir, de Brando em Apocalispe Now: "The horror, the horror". Se em O Último Samurai esta foi a grande sacada que elevou o conceito da trama, em Diamante de Sangue foi aquela gota de perfume a mais que deixa todo mundo enjoado.

Ainda assim vale o play tanto pelo roteiro como pela mensagem. Em tempo: somente se você aprecia a ética, a honra e acima de tudo, o Homem.